terça-feira, 21 de outubro de 2008

Tenho olhos de sombra e um coração machucado.
Machucado de saudades, decepções e amores mal resolvidos.
Tenho fogo no corpo e frieza na alma. Sou o contrário de tudo o que é certo.
Logo eu, que só quis acertar...
Não faço nada, vivo do vento... Vivo de esmolas de amor.
Sinto muito. Me entrego muito. E sempre à coisas que não são reais...
Mas não me queixo. Até gosto.
Só ainda não sei se é vital ou letal ter um coração que se contenta assim com tão pouco. Ter um coração que dói tanto e que sorri tanto, tudo ao mesmo tempo.
POA, 25/09/08

domingo, 12 de outubro de 2008

Enfim, o entendimento

Eu, no meu lugar favorito, sentada em um banco, debaixo de uma árvore.
Um vento de paz, um sol que aquece... Não há como duvidar que a vida seja mesmo maravilhosa.
Há nove meses eu moro em uma cidade na qual jamais pensei que moraria, faço coisas que jamais pensei que faria e a vida teima em dizer “sonhe à vontade, mas o destino das coisas eu é que sei”.
Há exatamente um ano eu escrevia sobre esse lugar como sendo uma fuga. Um lugar de sonhos para onde eu corria quando as coisas não estavam bem... Neverland...
Escrevia sobre me sentir só, embora acompanhada, sobre abandono, novas experiências e, é claro, sobre amor, paixão e decepções.
Algumas coisas permanecem as mesmas, é verdade. Mas a essência, a minha essência é que mudou.
Hoje sinto muito mais que antes sem deixar de ser forte... E hoje eu sei o quanto sou forte.
Aconteceram tantas coisas extraordinárias que só podem ter sido obras de Deus... E tantas coisas ruins que, por vezes, duvidei da existência Dele... Tantas coisas ruins e impossíveis de suportar... E eu suportei. Não uma a uma, mas todas de uma vez só.
Reclamei, ameacei desistir, chorei rios! Caí diversas vezes. E hoje, olhando para trás me vejo como uma criança birrenta que cai, chora sentada, amaldiçoa a sorte e levanta, só de birra!
Eu nunca fiquei no chão.
Senti pena de mim algumas vezes. Pena por sempre acreditar nas pessoas, por sempre me entregar mais do que deveria, pelas decisões que tomei...
Hoje eu sei que o erro não está em acreditarmos nas pessoas, mas nas pessoas não serem dignas de fé. Não está em sermos dóceis ou esperarmos sempre o melhor daqueles aos quais demos o melhor de nós. O erro não está no amor que oferecemos à quem não merecia ou em sermos ingênuos a ponto de acreditar que possamos mudar as pessoas.
Não há nada de errado em ter um bom coração, embora ingênuo.
Não há nada de errado na entrega.
Errado é receber sem nada doar, é não ver a beleza dos pequenos gestos com gratidão, é usar as pessoas como se fossem coisas, é não sentir carinho sequer por si mesmo.
Eu aprendi muitas coisas aqui e isso é fato. Tive lições que só a dor é capaz de ensinar. E posso dizer com toda a certeza que DESISTIR É FÁCIL DEMAIS!
Hoje, céu aberto, azul, lindo!
Hoje, vento no rosto, sorriso nos lábios...
Talvez eu não tenha tudo o que sonhei... Talvez os sonhos sejam feitos para ficar exatamente onde estão, na nossa mente... Mas hoje eu posso dizer com toda a certeza que encontrei aquilo que não vim buscar: CRESCIMENTO.

POA, 25/9/2008

sábado, 11 de outubro de 2008

Um sonho com cheiro de mar e um sabor adocicado. Nele habita um ser desconhecido em seu íntimo, mas cujas intimidades muito me agradam, embora as particularidades ainda sejam uma incógnita para mim.
Habita em meu sonho um ser inatingível. Impossível de se amar, impossível amar alguém além das muitas liberdades, mas por este motivo jamais lhe culparia, pois tirando-lhe a impressão de ser vento talvez não restasse o enigma que tanto me atrai.
Sonho sem nunca ter tido... Sonho sem esperanças... Sonho com o desconhecido que me conhece pelo cheiro, pelo tato, pela voz e não pelos pensamentos.
Sonho bom que começou na metade, pulando toda a introdução básica dos romances literários, tendo começado no meio e ali permanecido sem desenrolar para lado algum...
Sem final feliz, sem desfechos trágicos... Sonho que é a eterna explicação, o eterno talvez.
Sonho saudades latentes e talvez não recíprocas que não chegam a doer, já que até os corações acostumam-se à serenidade, à indiferença, à dúvida, à loucura, à insensatez...
E como em sonhos tudo é permitido, a mim permito sentir esse gosto de doce, este cheiro de mar, a cada vez que fecho os olhos.
Sonho guardado e vivido esporadicamente... Sonho sem certeza de nada... Sem esperar por nada... Sem amor, sem a total entrega... Lutando por não transformar sonho em paixão.
Gosto de doce, cheiro de mar, ponto de luz da candeia acesa... Gosto de vinho, cheiro de paz... Inebriando, transparecendo, satisfazendo, sumindo no ar...
Gosto de doce, cheiro de mel...
Habita meus sonhos e me conquista lentamente, a cada noite em que me encontra em meio ao meu sono cansado, fazendo das noites delicadas aventuras, sem volúpia, sem luxúria, apenas o afago que acalma, que enobrece e depois entristece...
Aquele cheiro de mar, o gosto doce... meu ponto de luz da candeia acesa...
O gosto de vinho... Meu cheiro de paz...
Inebriando, alegrando, iluminando e sumindo no ar...

Mariluz, 15 de outubro de 2007.