quinta-feira, 28 de agosto de 2008


De tanto querer-te tornei-me tudo o que desprezo e ao querer-te pus-me a odiar-me e ao odiar-me odiando-te pus-me amargurada, odiando a todos os outros.
De querer-te a apaixonar-me e a afastar-te para trazer-te de volta ao meu colo que te comporta como se fosses feito para ocupar tal lugar.
Não me peças para ficar e sucumbir a tudo o que há tempos luto. Não me peças para ficar quando somente me interessa fugir... Contente-se com o que te ofereço de bom grado.
E de querer-te tornei-me errante. Tornei-me errada, pecadora. Tornei-me tudo o que desprezo e abomino. De querer-te tornei-me doente.
Por querer-te, tornei-me tu.

Santo Ângelo, 18 de julho de 2007.

“Nenhuma pessoa é lugar de repouso” (Nei Duclós)
Sabe-se lá onde foi que li isso, mas não existe verdade maior.
Por maior que seja um sentimento por alguém, ele sempre termina ou se transforma.
O próprio amor era antes paixão, depois um misto de cada um... Hoje é só amor. Amanhã talvez seja carinho, amizade, respeito. Mas não será mais um misto de amor e paixão.
As amizades, a confiança, o ombro amigo de hoje pode não ser o porto seguro que você busca, pode se tornar algo diferente.
Somos pessoas diversificadas... Cada um encarando as situações de uma forma determinada e tomando atitudes diferentes.
Ninguém é igual e a idéia de que possa haver uma alma gêmea a cada dia se distancia mais da realidade.
Ninguém é lugar de repouso...
Um dia você pode se cansar ou cansarem de você. Um dia os pensamentos diferentes passarão a incomodar ou você simplesmente encontra alguém que completa aquele ser tão amado de antes.
Então aquele deixa de ser seu porto seguro, deixa de ser seu lugar de repouso.
Dizer-se apaixonado, julgar-se apaixonado é muito vão. Amanhã descobre-se enganado, mas aí já colocou os pés pelas mãos porque já estava acomodado naquela idéia idiota de que tudo agora estaria resolvido. Você se apaixonou e agora tudo será lindo. Idéias estúpidas de quem faz do outro um lugar de repouso. Não luta, não modifica, não se molda... Apenas repousa e deixa fluir.
Você se prende demais àquela pessoa que vai te magoar e não adianta chorar porque a culpa é sua! Você próprio julgou não precisar de nada para mantê-la presente. Você próprio julgou que ela era aquilo que você esperava mesmo sem conhecê-la a fundo.
Não quero que desconfie das pessoas, apenas olhe à sua volta e siga vivendo como se nada fosse para sempre, o que é fato, já que não somos eternos.
Olhe à sua volta e encare que as situações mudarão para melhor ou para pior quando você menos esperar e a chave para que se evite surpresas é aceitar as pessoas e os sentimentos como são: mutáveis, diversificados e indefiníveis.

Santo Ângelo, 15 de setembro de 2007


Existem pessoas de atitude, as nulas, as anuláveis e as anuladas.
Tenho pena das nulas.
Quanto às anuladas, depende... Algumas anulam-se e se sentem bem assim.
Mas as anuláveis... Estas que se deixam anular facilmente... Que se deixam invadir... Que permitem que roubem seu espaço, sua individualidade, sua liberdade... Estes jamais serão dignos de pena. Estes simplesmente não merecem ser salvos...
Gostam da anulabilidade, do controle.
A estes simplesmente desejo que sejam felizes mesmo assim, embora eu saiba que ninguém pode ser feliz sendo uma marionete. Porque ao final viveu-se apenas a vida da outra pessoa, julgando a sua algo banal... Banal porque jamais poderão fazer nada que seja diferente daquilo que lhe foi predeterminado.
Assim morrem as admirações. Assim vemos com tristeza que, por melhor que a pessoa seja, ela somente poderá ser, agir e ter sua personalidade até o limite que lhe foi imposto. Até o limite do que lhe é permitido.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Minhas Cartas Extraviadas

Alguns fogem, escondem-se dentro de si mesmos, outros choram, outros fingem... Há aqueles que maltratam os outros, há aqueles que maltratam a si mesmos...
Pois bem, eu escrevo cartas. Cartas a mim mesma, cartas a quem me fez chorar, cartas a quem me fez sorrir, cartas a quem simplesmente compartilhou o momento... E acredito ser esse o ponto chave para se descobrir (e diferenciar) personalidades: a forma como as pessoas lidam com a dor.
Ao contrário dos que extravasam sentimentos para o mundo, eu escrevo cartas que jamais serão lidas pelas pessoas às quais se destinam.
Parafraseando Martha Medeiros, são cartas de ficar.
Cartas de dor, de força, de orgulho...
Aqui não escrevo memórias, não conto as histórias que desejo esquecer, mas a paixão que senti ao vivenciá-las.
Embora não encontrem seus destinatários, elas encontram a razão pela qual foram criadas: para que eu, ao olhar para trás, perceba a intensidade da minha força.
Segue uma série desalinhada e sem ordem de desabafos, ora discretos, ora histéricos, àqueles que receberam mais do que doaram, àqueles que amaram menos que deveriam e àqueles que, por alguma razão, deixaram sua marca na história da minha vida.