terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Todo janeiro traz esperança... Pq todos sempre têm algo que gostariam que houvesse acontecido no ano que acaba.
Todos acham que poderiam ter sido mais felizes e esperam impacientes o ano novo.É inevitável que se pense assim toda a vez que chega dezembro.
“O ano que vem tem que ser melhor.”
“No ano que vem vou ficar rica, pintar o cabelo, emagrecer, me apaixonar...”
Mas a mudança exige muito mais que algumas alterações físicas e ninguém entende que é você quem decide tudo, ainda que inconscientemente.
Ninguém entende (e me incluo nesse rol) que a mudança não é mérito apenas de uma época do ano.
Sempre que você rasga uma carta antiga, que dá aquela geral no guarda-roupa, cada vez que revê seus atos ou que algo te toca profundamente, é a mudança acontecendo. E mesmo diante de uma grande tragédia, nada mais será o mesmo.
Recomeçar é preciso!
Hoje, em janeiro, em agosto ou no outono. Seja qual for a época do ano.
Clarice Lispector dizia que “a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena”.
O risco de perder-se para encontrar-se, o risco de mandar tudo p/ espaço, mudar de ares, de convicções, de cabelo... Alterar a disposição dos móveis, os gostos, a forma de ver o mundo, as pessoas, os defeitos...
Mais um ano vem trazendo a inevitável esperança ao coração daqueles que não foram tão felizes quanto desejavam.
Que essa esperança continue viva, trazendo os sonhos à superfície e nos dando coragem p/ concretiza-los em todos os meses do ano.
(Santo Ângelo, 16/12/2008)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Aferindo-me, aferindo-te

Já aconteceu outras vezes... A gente até perde a conta.
Eu tento te esquecer... Você diz que nunca mais.
Eu sempre consigo, embora por pouco tempo.
Eu sempre consigo... Você não.
Eu sigo minha vida, encontro outros amores... Você já não é mais tão essencial.
Você retorna à sua vidinha. Medíocre e sem amor...
Sem amor e sem fé.
Sem amor e sem paz.
Sem amor e sem mudança.
Sem amor e sem esperança.
Eu faço planos para o futuro, um futuro que não te inclui. Eu dou passos importantes, nunca fico no mesmo lugar.
Eu mudo as regras, o destino... Eu fujo de te encontrar.
Você vive o seu presente como se o futuro fosse distante.
Deixa de fazer planos e se sente impotente.
Você vive o marasmo... Uma vida vazia de amor...
De amor de alegria.
De amor e plenitude.
De amor e de futuro.
De amor e companhia.
Eu me demoro pouco. Eu me sou suficiente. Eu faço tudo sozinha e eu sou feliz assim.
Cuido de mim, cuido dos outros. Reconstruo meus alicerces.
Me reconcilio comigo... Eu volto a ser o que sou.
Eu me basto, me fortaleço. Eu mudo e olho pra frente.
Não sou fria, pelo contrário. É excesso de amor por mim.
Você não se alegra sozinho, não faz nada por ninguém.
Volta para seu mundinho. Não constrói e nem destrói...
E segue olhando pra baixo, sempre para o próprio umbigo.
E segue uma vida sem caminho.
Sem caminho e sem amor.
Sem caminho e sem sonhos.
Sem caminho e sem um chão.
Sem caminho e sem mim.
Qualquer carinho me alegra. Chamem do que quiser.
Eu chamo felicidade. Eu chamo desprendimento.
Troco de par, começo outra história. Eu volto a viver por inteiro.
Eu me entrego sem limites. Eu não tenho medo da dor.
Você gosta do que é cômodo, mesmo sem sentimento.
Tem medo do que é mudança e evita se entregar.
Você não sabe sentir... Você não sabe gostar.
Não se entrega, não vive... Sobrevive sem amar.
Sem amor e sem suspiros.
Sem amor e sem espera.
Sem amor e sem ansiedade.
Sem amor e sem prazer.
Eu busco outros caminhos. Eu busco ser feliz.
Você volta pra casa. E busca me esquecer.
Então eu te prometo tudo aquilo que não tens. Então eu te ofereço mais um pouquinho de mim.
Eu somo, divido, multiplico, o que for!
Posso te fazer feliz. Posso te trazer a superfície.
Eu posso te ensinar a gostar. Era só você deixar.
Mas você não pode mudar... Você tem medo de amar.
De amar e de sonhar.
De amar e de sorrir.
De amar e ser feliz.
De amar e se entregar.

Santo Ângelo, 18/12/2008.

domingo, 23 de novembro de 2008

Isto é só o fim!

Depois de digerido, o fim não parece tão ruim...
Depois de chorado, de sentido até o último suspiro, até as pernas desfalecerem, o fim não parece assim tão ruim.
Depois de cair o castelo, o fim não parece ruína, parece, sim, redenção.
Encerra-se um ciclo vicioso, as mentiras, as desculpas... Encerra-se uma história que pensei jamais ter fim... Mas teve.
Por quantas vezes me perguntei, mas somente hoje sei responder... Nem sempre o que nos faz bem é puro. Nem sempre o que amamos é o que nos fará felizes e os vícios... Os vícios são SEMPRE letais.
Chorei uma dor rasgada, dilacerada. Uma dor doente que gritava, mordia, uma dor que jogava-se no chão de desespero... Chorei até os olhos incharem. Até o rosto deformar.
Chorei a estranha dor daqueles que perdem o que sequer tiveram a oportunidade de possuir.
Chorei a saudade de tudo o que poderia ter sido e não foi.
Pensei que chorava por amor.
Quatro dias depois e outras coisas ocupando minha cabeça... Hoje eu sei que o que chorei foi uma dor que eu desconhecia. E, por desconhecê-la, sofri o dobro.
O que chorei foi a dor cirúrgica de quem extrai um câncer que ia se espalhando pelo seu corpo. Extraído à unha, sem aviso e sem anestesia.
A dor de ter arrancado algo que me estava matando, mas que já era parte de mim.
A dor... As convulsões... A cicatriz... E a paz. Finalmente, a paz.
A paz e a certeza de que, agora sim, felicidades saudáveis virão.

POA/SANTO ÂNGELO, 02/11/2008.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

À você

Ilustre pessoa que meu lado profano tanto adora... Ilustre ser pelo qual meu corpo anseia e no qual ele se perde... Hoje pensei em você.
Não como das outras vezes. Não com pensamentos insanos... Nada proibido.
Pensei naquilo que realmente é e no que causa em mim.
Há quase dois anos eu tento lutar contra mim mesma... Tento negar minha natureza... Retiro da mesma situação que repetidas vezes me tira o sono, diferentes conclusões a cada vez que me deparo com a tua sombra... A cada vez que te encontro.
Mas a verdade é que sou passional a ponto de ruir meu mundo a cada vez que acontece.
Primeiro o desejo, a auforia, a alegria, a intensidade e, logo depois, o arrependimento, a repulsa e uma infinidade de sentimentos que fazem com que eu me intitule uma pessoa ruim.
Só que eu não sou.
Eu sou a mesma pessoa de sempre... Aquela que se entrega demais, se doa demais sem pedir nada em troca, sequer um pouco de respeito.
Alguém que não sabe esconder sentimentos e que vive das migalhas que você deixa pelo chão.
Eu não sei te dizer não. Eu não consigo te negar.
Sou fraca a ponto de ficar rezando para que você desapareça, para que Deus me livre da tentação, enquanto bem sei que te negar deveria depender somente de mim.
O que, afinal, você pretende?
Não acredito que pretenda uma vida assim.
O que quer de mim? Custa-me acreditar no que parece tão claro, mas eu sei que deveria.
Só queria ter coragem de te pedir (e como não tenho, escrevo) que por favor me deixe em paz.
Se teus pensamentos não me incluem e na tua vida não há espaço para mim, por favor, me deixe em paz.
Infelizmente eu tenho o costume idiota de colocar sentimento nas coisas...
Eu nunca brinquei contigo. Eu não brinco com as pessoas, embora as pessoas costumem fazer isso comigo.
Entenda que você estraga a minha vida a cada vez que aparece com propostas que me fazem te querer enquanto me concede apenas um pedaço mínimo e por tempo determinado.
Eu não posso mais viver assim. Eu quero e mereço ser feliz e isso nunca acontecerá com teu fantasma rondando a minha cama.
Passei dias te enchergando quando olhava no espelho e pensava que teria me transformado em ti... Hoje vejo que não. Eu nunca serei assim.
Amor é desejo, fogo, paixão, carinho, lealdade, amizade e respeito. Não é amor se faltar qualquer destes itens. Não é um amor completo... Não passa de um "meio amor".
O amor é algo que não permite desejos ocultos. Não se pode amar de verdade alguém e ter quem bem entender ao mesmo tempo.
É uma fuga e é injusto.
É um jogo em que todos perdem.
O amor que trai não é amor.
Analise isso! Analise-se!
Chega de iludir as pessoas com promessas incompletas, pois o amor que não se contenta em amar a um só nada mais é que um "quase amor"... E um sentimento tão puro só sobrevive se for completo.
Acha justo receber amor sem oferecê-lo? Acha justo consigo mesmo não se permitir sentí-lo? E não adianta. Nós dois sabemos que existe um problema.
Não faça com que o outro entregue a vida à você, se não é capaz de dar-lhe um sentimento completo. É injusto e todos sofrem.
Tudo bem, nada sei dos teus sentimentos. Talvez esteja tremendamente enganada e você seja um ser onipotente que consegue conciliar tudo... Mas até quando vai conseguir viver sem plenitude?
Não posso viver de farsas e esperanças de reciprocidade. Há quase dois anos eu tento (em vão) te mostrar quem sou por trás de tudo isso e te fazer entender. Tento tanto e acabei esquecendo da plenitude. Acabei por esquecer do amor que eu mereço.
Ainda que um dia tu viesses a me amar, o que tenho plena consciência que jamais acontecerá, esse amor não seria pleno, pois você só sabe oferecer amor aos pedaços.
Não sei o que te fez assim, mas sinto muito que tenha acontecido.
Você realmente merece ser feliz como qualquer pessoa e é isso que eu te desejo.
Talvez isso tudo pareça uma grande besteira, mas um dia você vai parar para pensar. Só espero que não seja tarde demais.
Quanto a mim, aquela que sempre doou e nada recebeu. Que te encheu de carinhos e só recebeu frieza... Seguirei meu caminho e tentar esquecer todo esse tempo de encontros furtivos em que te tiro o fôlego enquanto me tiras a decência, o amor próprio, a sanidade e a capacidade de sonhar.
Some da minha vida, pelo amor de Deus!
Me permita sentir a felicidade que não podes oferecer a ninguém.
Eu preciso ser feliz e não quero mais errar.
Não quero estragar minha vida por alguém para o qual não significo absolutamente nada.
Não quero mais ficar esperando demonstrações de afeto de alguém que é incapaz de um sentimento inteiro.
Eu sempre quis te explicar exatamente isso, embora nunca consiga. Sempre quis apenas te dizer que eu não sou vazia como você e que coloco sentimento no que temos desde a primeira vez.
Sempre quis te dizer e nunca tive coragem mas, no fundo, sei que você sempre soube.
Sei que me usa, magoa, machuca, tendo plena consciência do que que faz. Abusa de mim porque no fundo você sabe que eu cometo o erro estúpido de colocar sentimento no que era para ser brincadeira.
Quanto a mim, portanto, te peço que não me atormente mais.
Suma da minha vida! Eu preciso recomeçar de uma maneira inteligente.
Desapareça, por favor! Leva contigo as lembraças das muitas noites que passamos juntos para que eu consiga te esquecer por completo.
Espero, do fundo do coração, que analise a vida que leva e passe a buscar a plenitude do amor, algo que você até conhece, mas que não vive.
Sempre torci por ti, mais do que deveria, e continuarei torcendo.
Mas desta vez, farei isso de longe, muito longe.
Farei isso a uma distância que não me cause estragos. A uma distância que não me seja letal.

Com carinho, com raiva e, por vezes, com paixão,

K.

POA, 07/09/2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Eu sei, era pra ser passageiro.
Era pra ser brincadeira.
Era pra ser só uma nuvem em frente ao sol.
Era pra ser divertido.
Era pra ser de mentira...
Era pra ser uma noite e não mil.
Era pra ser uma fuga, mas se transformou em refúgio.
Era pra ser sem carinho...

Não era pra ser paixão.
Era pra ser uma estação, não uma vida inteira.
Uma relação que traz a tona o pior que existe em nós...

Sim, era pra ser repulsa!
Não era pra ser admiração.
Conhecendo cada centímetro de pele sem a verdadeira intimidade...
Afastando por obrigação, atraindo por necessidade...
Era pra ser desnecessário...

Não era pra ser o ar.
Invadindo pensamentos nos instantes de solidão...
O coração cheio de lembranças que teimam em não evaporar...
As paisagens, as bobagens, que fazem lembrar do outro, tão fácil, só de olhar.
Eu sei, isso era pra ser vontade...

Não era pra ser saudade.
Seguir negando a si mesmo, reprovando o coração...

Mascarando sentimentos, tentando fugir, rezando pra esquecer...
Rir juntos, dividir.

Entender sem julgar...
Sentir arrepios à flor da pele por causa de um pensamento...
Ver semelhanças...
Sonhar.
Eu sei, era pra se perder...

Não era pra se encontrar.

Santo Ângelo, 21/10/08.


terça-feira, 21 de outubro de 2008

Tenho olhos de sombra e um coração machucado.
Machucado de saudades, decepções e amores mal resolvidos.
Tenho fogo no corpo e frieza na alma. Sou o contrário de tudo o que é certo.
Logo eu, que só quis acertar...
Não faço nada, vivo do vento... Vivo de esmolas de amor.
Sinto muito. Me entrego muito. E sempre à coisas que não são reais...
Mas não me queixo. Até gosto.
Só ainda não sei se é vital ou letal ter um coração que se contenta assim com tão pouco. Ter um coração que dói tanto e que sorri tanto, tudo ao mesmo tempo.
POA, 25/09/08

domingo, 12 de outubro de 2008

Enfim, o entendimento

Eu, no meu lugar favorito, sentada em um banco, debaixo de uma árvore.
Um vento de paz, um sol que aquece... Não há como duvidar que a vida seja mesmo maravilhosa.
Há nove meses eu moro em uma cidade na qual jamais pensei que moraria, faço coisas que jamais pensei que faria e a vida teima em dizer “sonhe à vontade, mas o destino das coisas eu é que sei”.
Há exatamente um ano eu escrevia sobre esse lugar como sendo uma fuga. Um lugar de sonhos para onde eu corria quando as coisas não estavam bem... Neverland...
Escrevia sobre me sentir só, embora acompanhada, sobre abandono, novas experiências e, é claro, sobre amor, paixão e decepções.
Algumas coisas permanecem as mesmas, é verdade. Mas a essência, a minha essência é que mudou.
Hoje sinto muito mais que antes sem deixar de ser forte... E hoje eu sei o quanto sou forte.
Aconteceram tantas coisas extraordinárias que só podem ter sido obras de Deus... E tantas coisas ruins que, por vezes, duvidei da existência Dele... Tantas coisas ruins e impossíveis de suportar... E eu suportei. Não uma a uma, mas todas de uma vez só.
Reclamei, ameacei desistir, chorei rios! Caí diversas vezes. E hoje, olhando para trás me vejo como uma criança birrenta que cai, chora sentada, amaldiçoa a sorte e levanta, só de birra!
Eu nunca fiquei no chão.
Senti pena de mim algumas vezes. Pena por sempre acreditar nas pessoas, por sempre me entregar mais do que deveria, pelas decisões que tomei...
Hoje eu sei que o erro não está em acreditarmos nas pessoas, mas nas pessoas não serem dignas de fé. Não está em sermos dóceis ou esperarmos sempre o melhor daqueles aos quais demos o melhor de nós. O erro não está no amor que oferecemos à quem não merecia ou em sermos ingênuos a ponto de acreditar que possamos mudar as pessoas.
Não há nada de errado em ter um bom coração, embora ingênuo.
Não há nada de errado na entrega.
Errado é receber sem nada doar, é não ver a beleza dos pequenos gestos com gratidão, é usar as pessoas como se fossem coisas, é não sentir carinho sequer por si mesmo.
Eu aprendi muitas coisas aqui e isso é fato. Tive lições que só a dor é capaz de ensinar. E posso dizer com toda a certeza que DESISTIR É FÁCIL DEMAIS!
Hoje, céu aberto, azul, lindo!
Hoje, vento no rosto, sorriso nos lábios...
Talvez eu não tenha tudo o que sonhei... Talvez os sonhos sejam feitos para ficar exatamente onde estão, na nossa mente... Mas hoje eu posso dizer com toda a certeza que encontrei aquilo que não vim buscar: CRESCIMENTO.

POA, 25/9/2008

sábado, 11 de outubro de 2008

Um sonho com cheiro de mar e um sabor adocicado. Nele habita um ser desconhecido em seu íntimo, mas cujas intimidades muito me agradam, embora as particularidades ainda sejam uma incógnita para mim.
Habita em meu sonho um ser inatingível. Impossível de se amar, impossível amar alguém além das muitas liberdades, mas por este motivo jamais lhe culparia, pois tirando-lhe a impressão de ser vento talvez não restasse o enigma que tanto me atrai.
Sonho sem nunca ter tido... Sonho sem esperanças... Sonho com o desconhecido que me conhece pelo cheiro, pelo tato, pela voz e não pelos pensamentos.
Sonho bom que começou na metade, pulando toda a introdução básica dos romances literários, tendo começado no meio e ali permanecido sem desenrolar para lado algum...
Sem final feliz, sem desfechos trágicos... Sonho que é a eterna explicação, o eterno talvez.
Sonho saudades latentes e talvez não recíprocas que não chegam a doer, já que até os corações acostumam-se à serenidade, à indiferença, à dúvida, à loucura, à insensatez...
E como em sonhos tudo é permitido, a mim permito sentir esse gosto de doce, este cheiro de mar, a cada vez que fecho os olhos.
Sonho guardado e vivido esporadicamente... Sonho sem certeza de nada... Sem esperar por nada... Sem amor, sem a total entrega... Lutando por não transformar sonho em paixão.
Gosto de doce, cheiro de mar, ponto de luz da candeia acesa... Gosto de vinho, cheiro de paz... Inebriando, transparecendo, satisfazendo, sumindo no ar...
Gosto de doce, cheiro de mel...
Habita meus sonhos e me conquista lentamente, a cada noite em que me encontra em meio ao meu sono cansado, fazendo das noites delicadas aventuras, sem volúpia, sem luxúria, apenas o afago que acalma, que enobrece e depois entristece...
Aquele cheiro de mar, o gosto doce... meu ponto de luz da candeia acesa...
O gosto de vinho... Meu cheiro de paz...
Inebriando, alegrando, iluminando e sumindo no ar...

Mariluz, 15 de outubro de 2007.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Vício

Porto Alegre, 07 de julho de 2008.
Por meses desde a última vez, o viciado se julga limpo.
Passou pelas crises de abstinência. Sente-se digno de entrar no céu.
Mas numa tarde de inverno, triste frio das almas solitárias, sem querer é posto à prova, cara a cara com ele: o vício.
As pernas tremem, as mãos irrequietas, o coração pulsa descompassadamente. Sim, é uma crise. E das grandes!
Como primeira atitude, a negação de seus desejos, a insistência em permanecer livre enquanto os tremores aumentam.
O viciado se esconde, busca um contato maior com a droga que conhece bem e cujas sensações ainda lhe causam arrepios.
Ele balbucia seu nome, anseia pelo reencontro e nega, nega com veemência todos estes sentimentos.
Conhece bem os sintomas. A euforia, a diversão, o desejo desesperado e a vontade de nunca mais parar. Mas, sobretudo, ele conhece a overdose, a depressão pós consumo, seu organismo se consumindo por dentro de dor, de raiva, de arrependimento...
Ele sabe que não vale a pena. Ele sabe que viver bem é muito mais importante e gratificante... Ele sabe os prós e os contras (principalmente os contras)... O desejo e uma infinidade de conseqüências ruins...
E mesmo assim ele sucumbe e se entrega ao vício. Lambuza-se, abusa, diverte-se e sente-se feliz por poucos minutos como se valessem uma vida.
Sucumbe sabendo que erra, que jogou tudo fora... Que deixou de lado aquilo que mais ama, pelo vício.
O vício de entregar-se de corpo e alma ao que é desejo, ao que é jogo, ao que não é real.
E de pessoa de bem, apta a ir para o céu, retorna à sua posição de viciado.
Viciado no que é bom, mas não alimenta, deseja, mas não supre lacunas, ama, mas não com a alma.
Viciado naquilo que parecia passageiro, mas que mês após mês teima em acomodar-se dentro dele.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008


De tanto querer-te tornei-me tudo o que desprezo e ao querer-te pus-me a odiar-me e ao odiar-me odiando-te pus-me amargurada, odiando a todos os outros.
De querer-te a apaixonar-me e a afastar-te para trazer-te de volta ao meu colo que te comporta como se fosses feito para ocupar tal lugar.
Não me peças para ficar e sucumbir a tudo o que há tempos luto. Não me peças para ficar quando somente me interessa fugir... Contente-se com o que te ofereço de bom grado.
E de querer-te tornei-me errante. Tornei-me errada, pecadora. Tornei-me tudo o que desprezo e abomino. De querer-te tornei-me doente.
Por querer-te, tornei-me tu.

Santo Ângelo, 18 de julho de 2007.

“Nenhuma pessoa é lugar de repouso” (Nei Duclós)
Sabe-se lá onde foi que li isso, mas não existe verdade maior.
Por maior que seja um sentimento por alguém, ele sempre termina ou se transforma.
O próprio amor era antes paixão, depois um misto de cada um... Hoje é só amor. Amanhã talvez seja carinho, amizade, respeito. Mas não será mais um misto de amor e paixão.
As amizades, a confiança, o ombro amigo de hoje pode não ser o porto seguro que você busca, pode se tornar algo diferente.
Somos pessoas diversificadas... Cada um encarando as situações de uma forma determinada e tomando atitudes diferentes.
Ninguém é igual e a idéia de que possa haver uma alma gêmea a cada dia se distancia mais da realidade.
Ninguém é lugar de repouso...
Um dia você pode se cansar ou cansarem de você. Um dia os pensamentos diferentes passarão a incomodar ou você simplesmente encontra alguém que completa aquele ser tão amado de antes.
Então aquele deixa de ser seu porto seguro, deixa de ser seu lugar de repouso.
Dizer-se apaixonado, julgar-se apaixonado é muito vão. Amanhã descobre-se enganado, mas aí já colocou os pés pelas mãos porque já estava acomodado naquela idéia idiota de que tudo agora estaria resolvido. Você se apaixonou e agora tudo será lindo. Idéias estúpidas de quem faz do outro um lugar de repouso. Não luta, não modifica, não se molda... Apenas repousa e deixa fluir.
Você se prende demais àquela pessoa que vai te magoar e não adianta chorar porque a culpa é sua! Você próprio julgou não precisar de nada para mantê-la presente. Você próprio julgou que ela era aquilo que você esperava mesmo sem conhecê-la a fundo.
Não quero que desconfie das pessoas, apenas olhe à sua volta e siga vivendo como se nada fosse para sempre, o que é fato, já que não somos eternos.
Olhe à sua volta e encare que as situações mudarão para melhor ou para pior quando você menos esperar e a chave para que se evite surpresas é aceitar as pessoas e os sentimentos como são: mutáveis, diversificados e indefiníveis.

Santo Ângelo, 15 de setembro de 2007


Existem pessoas de atitude, as nulas, as anuláveis e as anuladas.
Tenho pena das nulas.
Quanto às anuladas, depende... Algumas anulam-se e se sentem bem assim.
Mas as anuláveis... Estas que se deixam anular facilmente... Que se deixam invadir... Que permitem que roubem seu espaço, sua individualidade, sua liberdade... Estes jamais serão dignos de pena. Estes simplesmente não merecem ser salvos...
Gostam da anulabilidade, do controle.
A estes simplesmente desejo que sejam felizes mesmo assim, embora eu saiba que ninguém pode ser feliz sendo uma marionete. Porque ao final viveu-se apenas a vida da outra pessoa, julgando a sua algo banal... Banal porque jamais poderão fazer nada que seja diferente daquilo que lhe foi predeterminado.
Assim morrem as admirações. Assim vemos com tristeza que, por melhor que a pessoa seja, ela somente poderá ser, agir e ter sua personalidade até o limite que lhe foi imposto. Até o limite do que lhe é permitido.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Minhas Cartas Extraviadas

Alguns fogem, escondem-se dentro de si mesmos, outros choram, outros fingem... Há aqueles que maltratam os outros, há aqueles que maltratam a si mesmos...
Pois bem, eu escrevo cartas. Cartas a mim mesma, cartas a quem me fez chorar, cartas a quem me fez sorrir, cartas a quem simplesmente compartilhou o momento... E acredito ser esse o ponto chave para se descobrir (e diferenciar) personalidades: a forma como as pessoas lidam com a dor.
Ao contrário dos que extravasam sentimentos para o mundo, eu escrevo cartas que jamais serão lidas pelas pessoas às quais se destinam.
Parafraseando Martha Medeiros, são cartas de ficar.
Cartas de dor, de força, de orgulho...
Aqui não escrevo memórias, não conto as histórias que desejo esquecer, mas a paixão que senti ao vivenciá-las.
Embora não encontrem seus destinatários, elas encontram a razão pela qual foram criadas: para que eu, ao olhar para trás, perceba a intensidade da minha força.
Segue uma série desalinhada e sem ordem de desabafos, ora discretos, ora histéricos, àqueles que receberam mais do que doaram, àqueles que amaram menos que deveriam e àqueles que, por alguma razão, deixaram sua marca na história da minha vida.